11 de dezembro de 2013

KABARETT - Processo Criativo




“Esforçai-vos por tirar prazer do cumprimento da vossa missão cénica. É o axioma n.º 1.”
Meyerhold.
“KABARETT”
Iniciamos este processo de dois meses, com a certeza que a máscara e a presença constituem as bases para a pesquisa de instrumentos e mecanismos a pôr em prática de modo a potenciar o impulso criativo de cada um, no seio de um coletivo. Este foi o nosso método, que serviu para nos munirmos de ferramentas, âncoras, apoios essenciais para as nossas criações futuras. Neste ou em qualquer outro espetáculo.
O estágio de máscara estabeleceu um primeiro contacto entre o corpo de atores e a equipa artística. Definimos um vocabulário, uma linguagem própria e, ao mesmo tempo, desenhámos as linhas de pesquisa para o processo criativo.
A criação coletiva estruturou o processo de criação. Todas as decisões foram tomadas em conjunto. Foram sugeridas várias estratégias, desenvolvidas pelos vários intervenientes no processo. Contámos ainda com o apoio de José Geraldo, na dramaturgia; Helena Flôr Dias, no estágio sobre a presença; Pedro Correia, na direção e criação musical; Artur Pinto, na voz; Sofia Coutinho, coreografia, Irina Sales Grade, no vídeo e Guilherme Alves Barbosa, na técnica. Contámos ainda com a ajuda preciosa de amigos para a cenografia e figurinos. Construímos máscaras, escrevemos e gravámos uma radionovela, com o apoio da RUC- Radio Universidade de Coimbra , cantámos, filmámos e projetámos os nossos corpos nas paredes negras do Teatro Estúdio. Criámos este KABARETT como um lugar de sensações, de prazeres mundanos. É também um espaço de crítica e sátira social e política. Por isso, é o espaço ideal para explorar uma temática que será sempre atual: a subjugação da sexualidade. Esta está patente, por um lado, na objectificação do corpo feminino, que não passa despercebida quando reina o erotismo, mas que também surge em pequenos gestos do quotidiano; por outro, na violência da intolerância face à sexualidade individual.
Nesta busca, encontrámos um espaço de solidão, mas também de luta. Nele, deambulam personagens que sofrem e que brincam, procurando o seu lugar, e que encontram, por vezes, o amor.
Poderíamos ter feito mais. Podemos fazê-lo ainda. Estamos vivos.
Entendemos o teatro como um espaço íntimo de criação, no qual o público é bem recebido. Descobrimos o olhar, a relação direta com o outro, com o espetador. As noções de equilíbrio, de harmonia, de ritmo. A importância dos objetivos, o discurso interior. A relação entre “quem sou” e “o que faço aqui”. O trabalho de ator e a composição a partir da improvisação. Assumimos a presença do espetador e ganhámos uma maior consciência da nossa presença.
Temos vontade - queremos realizar algo importante. Partilhar algo de nós. Entregamo-nos! Somos criadores, autores e dramaturgos de nós mesmos. Não representamos apenas. Criamos o nosso papel, realizamos o nosso sonho, inventamos um outro mundo. Somos pessoas, seres livres, responsáveis pelo nosso trabalho, pelas nossas criações, conscientes de que pertencemos a um meio, a uma comunidade, e de que descendemos de uma tradição - não da tradição instituída mas daquela que passa, naturalmente, de geração em geração.