“Esforçai-vos por tirar
prazer do cumprimento da vossa missão cénica. É o axioma n.º 1.”
Meyerhold.
“KABARETT”
Iniciamos este processo de dois meses, com a certeza que a máscara e a
presença constituem as bases para a pesquisa de instrumentos e mecanismos a pôr
em prática de modo a potenciar o impulso criativo de cada um, no seio de um
coletivo. Este foi o nosso método, que serviu para nos munirmos de ferramentas,
âncoras, apoios essenciais para as nossas criações futuras. Neste ou em
qualquer outro espetáculo.
O estágio de máscara estabeleceu um primeiro contacto entre o corpo de
atores e a equipa artística. Definimos um vocabulário, uma linguagem própria e,
ao mesmo tempo, desenhámos as linhas de pesquisa para o processo criativo.
A criação
coletiva estruturou o processo de criação. Todas as decisões foram tomadas em
conjunto. Foram sugeridas várias estratégias, desenvolvidas pelos vários
intervenientes no processo. Contámos ainda com o apoio de José Geraldo, na
dramaturgia; Helena Flôr Dias, no estágio sobre a presença; Pedro Correia, na
direção e criação musical; Artur Pinto, na voz; Sofia Coutinho, coreografia,
Irina Sales Grade, no vídeo e Guilherme Alves Barbosa, na técnica. Contámos
ainda com a ajuda preciosa de amigos para a cenografia e figurinos. Construímos
máscaras, escrevemos e gravámos uma radionovela, com o apoio da RUC- Radio
Universidade de Coimbra , cantámos, filmámos e projetámos os nossos corpos nas
paredes negras do Teatro Estúdio. Criámos este KABARETT como um lugar de sensações, de prazeres mundanos. É também
um espaço de crítica e sátira social e política. Por isso, é o espaço ideal
para explorar uma temática que será sempre atual: a subjugação da sexualidade.
Esta está patente, por um lado, na objectificação do corpo feminino, que não
passa despercebida quando reina o erotismo, mas que também surge em pequenos
gestos do quotidiano; por outro, na violência da intolerância face à
sexualidade individual.
Nesta
busca, encontrámos um espaço de solidão, mas também de luta. Nele, deambulam
personagens que sofrem e que brincam, procurando o seu lugar, e que encontram,
por vezes, o amor.
Poderíamos ter feito mais. Podemos fazê-lo ainda. Estamos vivos.
Entendemos o teatro como um espaço íntimo de criação, no qual o público
é bem recebido. Descobrimos o olhar, a relação direta com o outro, com o
espetador. As noções de equilíbrio, de harmonia, de ritmo. A importância dos
objetivos, o discurso interior. A relação entre “quem sou” e “o que faço aqui”.
O trabalho de ator e a composição a partir da improvisação. Assumimos a
presença do espetador e ganhámos uma maior consciência da nossa presença.
Temos vontade - queremos realizar algo importante. Partilhar algo de
nós. Entregamo-nos! Somos criadores, autores e dramaturgos de nós mesmos. Não
representamos apenas. Criamos o nosso papel, realizamos o nosso sonho,
inventamos um outro mundo. Somos pessoas, seres livres, responsáveis pelo nosso
trabalho, pelas nossas criações, conscientes de que pertencemos a um meio, a
uma comunidade, e de que descendemos de uma tradição - não da tradição
instituída mas daquela que passa, naturalmente, de geração em geração.